domingo, 10 de maio de 2009

O cara


[ Era uma vez uma menina que não sabia o que era o amor. Ela não sabia nada. Pensava que sentia, mas não sentia. Não se pode amar quem não conhecemos. Quem ama quem não conhece, sofre uma ilusão e não ama. Mas ela pensava que amava, devia ser amor aquela aceleração espontânea no coração. Só podia ser. Ela era inocente a ponto de achar que aquilo era amor. Mas não era inocente a ponto de ficar esperando por ele. Ela não podia esperar, tinha curiosidade, e uma enorme vontade de viver. A vida dela tinha trilha sonora. E a música não pára. Então ela conheceu um 'cara'. É, pra ela, ele era só um cara. Ela era inocente a ponto de achar que o 'cara' soubesse que ela era uma menina diferente, e que já havia sofrido por amor, quero dizer ilusão, mas a menina achava que era amor. Mas ela não tinha sofrido nada, ela nem sabia de nada, a vida é uma caixinha de surpresas e a menina também era.Ele machucou ela. Ele machucou muito, ela nunca havia sido tão enganada, e ela era inocente. E nunca mais foi. Ela quis insistir na ilusão mas como todos sabem, ilusões são ilusões e não dão em nada. E ela queria chegar em algum lugar. A trilha continuava.Ela encarou a realidade, a verdade, e descobriu que a verdade dói. Dói tanto que um coração que um dia foi quente, se tornou gelo. Sim ela não tinha mais que mostrar nada pra ninguém. A verdade dela, era só dela. E essa não machucava. O 'cara' tinha que pagar. Ela dizia que vingança não levava a nada e que não sentia raiva. Mas o 'cara' iria pagar. Ela então percebeu que as pessoas mudam, se arrependem, sentimentos também mudam, e sentimentos fortes são construídos e não surgem do nada. Surgem depois de um longo período de descobertas, enfim de conhecimento. Ela descobriu então que o amor se construía. E não surgia. O 'cara' e a menina construíram um sem querer e sem saber. Ela também não sabia que era amada e que amava. Que o amor em si não existe, existem provas de amor. E ele, o 'cara' se mostrou mais que só um cara, e mesmo com tantos erros e mentiras, o amor dele pela menina crescia sempre, cada vez mais. E ele não tinha medo de mostrar, mostrava sempre, afinal são provas que demonstram o amor, e ele sabia disso. Provou várias vezes. Mas a menina já tinha se decidido, a verdade era só dela. Ela amava sim. Ela amava muito ele. Ele amava muito ela. Mas ela não podia provar. Não queria provar. Ela tinha medo, não era mais inocente, e era fria demais para corresponder a todo amor que tinha nas mãos. Eles foram felizes. Foram muito felizes. Ela era muito exigênte. Ela queria ter tudo, alcançar tudo. E um dia eles se separam. Foi ela quem quis. Foi culpa dela. Ele nunca magoaria ela de novo. E ela fazia isso sempre. Ela fez ele pagar por suas próprias ilusões. Ele talvez não merecesse. Mas ela fez. Mas ainda assim ele continuava tendo todo o amor do mundo pela menina. Talvez fosse demais. Ela não conseguia carregar tanto amor assim. E se quebrou. Preferiu arriscar. Fugiu do amor, e ainda foge. Ela vive fugindo. Ela acha o amor a coisa mais linda que já existiu, as provas e palavras que derivam dele também. Ela vive pensando nele. Ela vive pensando no amor. Ele vive pensando nela. Mas a vida segue. E o que passou passou. E é sempre no presente que lembramos do que passou. Então é inútil dizer que o que passou está no passado. Se lembrou, meu caro, está no presente, e não no passado. E o conto de era uma vez, que deveria ter acabado em final feliz, não teve esse final. É que na verdade o conto ainda não acabou. Ele continua. Porque a vida continua, essa é a realidade. A menina descobriu que a vida não é um filme que acabada na melhor parte, com a melhor música e permance até a música acabar, e fim. Ponto final felizes para sempre. Ela aprendeu que tem que fazer acontecer. Ele tem muito o que aprender com ela. Ela ainda tem muito o que aprender com ele. Eles se conhecem tanto, que as palavras as vezes são dispensáveis. Mas o amor está guardado. Talvez escondido. Um dia ela acha. Ou um dia ele perde. Não sei. O filme ainda não acabou. Mas tudo isso era só porque ela precisava agradecer ele que sempre demonstrou tanto amor, e ela nunca deu valor. Se ela pudesse demonstraria também. Mas ela não pode. Ela não deve. Ela continua gelada. E ele não conseguiu derrete-lá. Quem sabe consiga. O filme não acabou. Mas o texto sim. ]

Nenhum comentário:

Postar um comentário